Tanatose Crónica
“O tungo-de-nariz-alongado (tungus mortuus), também conhecido como rato-mortiço (ou, em certos locais, simplesmente mortiço), é um animal singular em toda a fauna ibérica. Aparentado aos marsupiais da Australásia (crê-se que chegaram à costa portuguesa há 50.000 anos, a bordo de jangadas naturais de emaranhados de cocos), este pequeno roedor partilha de uma característica defensiva comum a outros animais: sempre que pressente um predador finge-se de morto. Porém, e no que é único em todo o reino animal desta era geológica, além de se fingir de morto perante o perigo, o tungo-de-nariz-alongado morre mesmo. Isto é, fingindo-se de morto, deixa-se morrer efectivamente: permanecendo num estado de acinesia profunda, e que pode durar até vários dias, acaba por perecer. É esta, aliás, juntamente com a ameaça humana e a perda de habitats naturais, uma das causas que levam à diminuição do número de espécimes, estando actualmente classificada como espécie em perigo de extinção (…)”.
Ainda mais absurdo do que este espantoso e pequeno mamífero é o ser humano: fingindo viver, morre efectivamente.
EVN